quarta-feira, 18 de abril de 2012

PROSA DIGITAL: SÃO BENTO DO SAPUCAÍ/SP


Localizado no coração da Serra da Mantiqueira, São Bento do Sapucaí se destaca pela simplicidade e organização das atividades oferecidas. Patrimônio arquitetônico e cultural, gastronomia, artesanato e os atrativos naturais peculiares da região formam uma excelente opção de passeio e atendem aos mais variados perfis de visitantes.


Dia I


Centro Histórico 

Igreja da Matriz
Cheguei ao município por volta das 10h da manhã e após uma rápida passagem na área central, fui em direção à Casa da Cultura Miguel Reale ao encontro de um dos guias locais do receptivo turístico “trilheiros culturais”. Creverson Claro, conhecido como Crevinho, iniciou o papo apresentando o local onde estávamos situados. A Casa da Cultura está localizada num casarão do XIX e sua missão é resgatar, preservar e divulgar o patrimônio histórico da cidade, organizando acervos, exposições, oficinas e projetos educativos. Após visita realizada e com novas sugestões, a poucos metros dali, fui em direção a Igreja da Matriz. Feita em taipa de pilão por escravos em torno de 1853, a igreja é um dos pontos mais visitados da cidade. Atualmente a matriz está em processo de tombamento. 


Ainda a pé, mais alguns metros adiante, me deparei com a Capela de Santa Cruz, popularmente conhecida como a capela de mosaico o espaço merece ser visitado por sua peculiaridade. Com o objetivo de revitalizar o espaço, os artistas plásticos Angelo Milane e Claudia Vilar utilizaram pequenos cacos ou outros produtos, desenhos e criações das mais diversas para compor o cenário atualmente oferecido. Como dizem que imagens de santos não devem ser jogadas fora, por mais quebradas que estejam, para dar destino a estas figuras, elas são abandonadas nas capelas. Assim, os artistas fazem uso desses fragmentos em seus trabalhos. Um modo de se desfazer delas sem ter de jogar no lixo para um aproveitamento artístico.

Já se passava das 12h30, um momento sugestivo para uma rápida parada para alimentação. Resolvi então almoçar no Restaurante Taipa. Com espaço amplo, ambiente aconchegante e decorado com a identidade do artesanato local – fibra de bananeira – e verdadeiras relíquias de tempos passados, o visitante ficará bem a vontade para degustar comidas variadas com perfil caseiro feito no fogão a lenha.






Casa da Cultura Miguel Reale

Capela de Santa Cruz



Bairro do Quilombo

Referência de arte em São Bento do Sapucaí, a comunidade rural é reduto de artesãos e ponto de manifestações culturais. Por volta das 14h cheguei ao centro de artesanato Arte no Quilombo. Em um amplo espaço, o visitante encontrará peças artesanais produzidas por vários artistas da região que utilizam matéria prima retirada no campo com ênfase em fibra de bananeira e palha de milho.

Dali, logo ao lado, está situado o Ateliê Ditinho Joana. O local oferece ao visitante verdadeiras obras de arte esculpidas em madeira nobre. O artesão Ditinho Joana, como é conhecido, retrata em seus trabalhos o dia a dia do povo da roça. Após trocar a enxada e foice por ferramentas de esculpir, sua primeira obra foi em 1974 e desde então centenas de esculturas já foram realizadas.

Artesanato - Arte no Quilombo

Ditinho Joana com uma de suas obras

Cachoeira do Toldi

Após visitar o Bairro do Quilombo e com a finalidade de aproveitar o final da tarde, o próximo destino foi a Cachoeira do Toldi. Com acesso pela estrada do Paiol Grande e entrada no empreendimento Buena Vista Café, para chegar à grande cachoeira percorri em trilhas da Serra do Baú por aproximadamente 1,5 km. As trilhas são de fácil identificação e autoguiadas – com sinalização – paralelas a diversas quedas d’água que denominam outras cachoeiras.  Após 40 minutos de caminhada me deparei com o principal atrativo. Com aproximadamente 100 metros de queda, a cachoeira do Toldi é considerada a mais alta de São Bento do Sapucaí.



Cachoeira do Toldi
Trilha para a cachoeira



























Hospedaria Casarão

Com o início da noite se aproximando e o corpo já pedindo um pouco de descanso, dentre inúmeras boas possibilidades de hospedagens existentes no município, me identifiquei com a Hospedaria Casarão. A fachada do local se resume em um belo casarão construído em 1900 pela tradicional família Costa Manso.

Ao entrar pelo portão principal, a grande surpresa, o empreendimento vai muito além do grande patrimônio arquitetônico citado. Com ambiente agradável e acolhedor em meio a muito verde, o espaço oferece em sua área comum, um requintado salão para café da manhã, sala de lareira com livros e jogos, área para churrasco e a sugestiva varanda com descansadeiras. Feito em pedriscos e cercado por gramados e plantas ornamentais, o caminho para os chalés oferece perfeita sensação de bem estar.

Os chalés são customizados e personalizados, onde cliente tem a possibilidade e escolher o ambiente de acordo com sua expectativa. Ao todo, são 04 suítes no casarão que acomodam em média 04 pessoas, e 04 chalés direcionados para casais.

Vale considerar o atendimento oferecido pelos proprietários, dando a sensação de realmente estar em um local familiar e a possibilidade do visitante levar seu animal de estimação para a localidade.


Fachada da Hospedaria

Chalé Verde
Interno Chalé
Varanda com descansadeiras
Salão do café da manhã

Área para churrasco
Vista noturna de acesso aos chalés



Noite em São Bento
Por se tratar de uma cidade típica de interior e com atividades intensas durante o dia, a noite em São Bento do Sapucaí é relativamente calma e praticamente se resume em bares e restaurantes na área central e imediações. Seguindo recomendação de um amigo, resolvi conhecer o Restaurante Passatempo Slow localizado no bairro do Serrano. A primeira impressão agrada. O contraste da noite com iluminação baixa na varanda e 03 luminárias feitas com fundos de garrafa pet em cores diferenciadas, junto à construção rústica do espaço, trazem um tom agradável e pitoresco à localidade.

Com cardápio diversificado voltado à produtos da Mantiqueira, o visitante que não estiver preocupado com o tempo de permanência no local, além da excelente gastronomia, as histórias do irreverente proprietário recheiam a noite com conteúdo e entretenimento.





Fachada noturna do Restaurante Passatempo Slow

Calzone da Casa

Penne 4 queijos com brócolis  e tomates



Dia II
Circuito no Complexo do Baú

Às 7h da manhã, o café na Hospedaria Casarão já estava preparado com o cardápio composto por pães e bolos caseiros variados, sucos com fruta da época, leite, café, iogurte, granola, frutas e geléias.

Após check-out realizado, o destino para o dia todo de atividades verticais e de montanhismo era o Complexo do Baú. Localizado no Bairro do Paiol Grande, é um dos pontos mais conhecidos do Brasil pelos praticantes de esportes de aventura, com destaque para asa delta, paragliding, rapel e escalada.

Seguindo pela estrada do Paiol Grande, em determinado trecho, entrei em uma pequena estrada que liga algumas propriedades rurais até chegar ao Restaurante Pedra do Baú, localizado na base da Pedra do Baú e ponto de partida para diversos produtos turísticos oferecidos. De início, o visual panorâmico da paisagem impressiona, pois de um lado temos o imponente Complexo do Baú e de outro, toda a vista do vale que dá acesso a cidade de São Bento.

Ali se encontra também a base da empresa Pedra do Baú Ecoturismo, responsável pelos passeios guiados e com os equipamentos de segurança para cada atividade. Dentre as várias atividades ofertadas, decidimos realizar um Circuito de Aventura no Complexo do Baú. Para a realização de todo o trajeto proposto, tivemos o apoio da empresa Gaia Eco Aventura, parceira em diversas atividades na região.




Vista do complexo do Baú
Início da trilha




























Após separar todos os equipamentos necessários para as atividades verticais, saímos em uma trilha íngreme com duração de aproximadamente 01h entre a vegetação característica da localidade até o topo do Bauzinho. O Bauzinho é a rocha mais visitada do município devido ao seu fácil acesso – de carro chega-se até o estacionamento localizado a cerca de 100 metros do cume – e possui uma vista privilegiava e inclui um visual espetacular da parte lateral da Pedra do Baú. No local é recomendado levar blusas ou anoraks – abrigos impermeáveis – devido à altitude e consequentemente baixa temperatura em relação à sede do município.

Com a realização do trekking e alcance do cume do Bauzinho, a próxima atividade seria um rapel – atividade vertical com utilização de cordas e equipamentos específicos – até a base do Baú. Foram 02 lances realizados somando aproximadamente 50 metros de descida. Chegando à base da Pedra do Baú, a partir dali existem duas opções de passeio:



Topo do bauzinho

Rapel no bauzinho


- A primeira é sugerida para pessoas com pouco ou nenhum conhecimento em atividades de montanha, onde, por mais uma trilha, o visitante vai até as escadas da face sul da rocha. São ao todo 600 degraus divididos em 300 de ferro e 300 cavados na rocha. Para isso são utilizados equipamentos e técnicas de ascensão para neutralizar a possibilidade de possíveis quedas.

- A segunda já é voltada para pessoas com um mínimo entendimento de escalada em rocha e foi essa que optamos. Conquistar a Pedra do Baú por sua via clássica é algo que exige pouca técnica, porém o fator da altura – a rocha possui 340 metros – contribui para aguçar a adrenalina do trajeto após a conquista.


Alan Fialho da Pedra do Baú Ecoturismo preparando a segurança
lia realizando a travessia

Denis Ramon da Gaia Eco Aventura dando suporte à travessia
Eu, escalando uma face da via
Chegando ao topo do da Pedra do Baú à 1950 metros de altitude o visual é ímpar e o visitante detém de uma vista panorâmica de 360 graus onde pode ser avistado 52 pontos de diferentes cidades do Sul de Minas e do Vale do Paraíba. Conquistada pela primeira vez em 1940, pelos irmãos Cortez, tempos depois foi construído no alto o primeiro abrigo de montanha do Brasil, que infelizmente não existe mais. Hoje pode se ver apenas a base e alicerces dessa construção.


Ultima parada até o topo do Baú

Topo do baú - ao fundo, a Mantiqueira

A próxima etapa seria a descida pelas escadas da face norte da rocha. Com 620 degraus, divididos em 300 de ferro e 320 esculpidos na própria pedra. O retorno a princípio é assustador em função da altura, mas depois torna-se confortável com os equipamentos de segurança oferecidos. Após cumprimento da etapa da escadaria, seguimos por mais 01h de trilha – agora em declive – até a base do Restaurante Pedra do Baú

Escadas da face norte - 640 degraus
Retorno para a base do restaurante Pedra do Baú




























Já eram 15h30 e naquele momento o que mais desejava era um perfeito almoço com cardápio voltado a culinária caipira, todo servido no fogão a lenha. 

Assim se resumiu 02 dias de atividades em uma das cidades mais interessantes do interior do Estado na atualidade. Como consta o trecho da musica Simplicidade: “Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia...”, assim é São Bento do Sapucaí!











Vista parcial do restaurante Pedra do Baú

Retornando para casa