O maior deserto de sal contínuo do mundo, com seus atrativos naturais e culturais, compostos por cemitério de trens, hotéis de sal, ilha de cactus gigantes, lagunas coloridas e pedras esculpidas pelo vento, faz dessa região, a mais impressionante do território boliviano.
Dia
I
Monumento do centro de Uyuni |
O céu de brigadeiro oferecia as boas
vindas em Uyuni naquela manhã. Logo cedo, ao acordar num pequeno hostel no
centro da cidade, após ligeiro café, um aguardado atrativo natural estava
prestes a ser visitado. Após compra de alguns mantimentos e poucos litros de
água, me direcionei a sede da empresa que nos levaria a pequena expedição de 03
dias ao Salar de Uyuni e Deserto de Siloli. A travessia por essa região é um
dos roteiros turísticos mais bem sucedidos de toda a Bolívia e atrai, durante
todo o ano, visitantes em busca de experiências exclusivas em terras
sul-americanas.
Em um veículo 4x4 com capacidade para
07 pessoas, ali conheci meus companheiros de viagem. Além de mim, o grupo era
formado por outra brasileira, uma boliviana, um costa riquenho, um alemão e
dois japoneses. Após malas devidamente alojadas e grupo reunido, por volta das
10h saímos em direção ao deserto de sal e seus inúmeros atrativos impares.
Preparando nosso veículo para ó tour do salar e deserto |
Cemitério
de Trens
Logo na saída de Uyuni, pouco antes do
início do deserto, nos deparamos com um imenso cemitério de trens. O local
possui dezenas de locomotivas a vapor antigas e inúmeros vagões e peças
destruídas por diversas causas. Tudo é concentrado ali oferecendo um cenário
atípico e surpreendente. Uma rápida parada foi suficiente para reconhecimento
do lugar e acervo fotográfico.
Salar
de Uyuni
Às margens da região desértica, fizemos
uma breve parada em uma pequena comunidade chamada Colchani, onde o sal é
protagonista e está presente nos trabalhos artesanais feitos por locais e nas
peças de um pequeno museu.
trabalho manual a venda em Colchani |
Seguindo viagem, considerado o maior
deserto de sal contínuo do mundo, o salar possui uma área de 12 mil km2,
resultado da evaporação de antigos lagos a 3.600 metros de altitude.
Dali para frente, o asfalto seria uma imensa placa branca de sal e o céu azul como
horizonte.
Em outra breve parada, tivemos contato
com uma área de exploração do sal. Pequenos montes pontiagudos apresentavam
outra nova paisagem adversa. Estima-se que o Salar de Uyuni contenha 10 bilhões
de toneladas de sal, das quais menos de 25 mil são extraídas anualmente como
atividade econômica. Dada a imensidão branca apresentada no momento, a
criatividade para as fotos dão asas à imaginação ao brincar a perspectiva e
profundidade de campo.
Mais uma hora adiante em nosso 4x4,
chegamos a uma construção feita de blocos do sal e um monumento denominado “Praça
das Bandeiras”, constituído por bandeiras de diversas nações dentro de um
circulo demarcado também por blocos de sal.
Praça das Bandeiras |
O relógio já marcava 12h e o momento
era muito oportuno para o almoço. Ali a primeira surpresa, nosso motorista,
guia e mecânico, também era responsável para o preparo do almoço. Sem higiene
alguma me deparei com aquele rapaz manipulando os alimentos nos que nos seria
servido. O cardápio, a princípio não era dos piores. Com o porta malas aberto,
o almoço foi improvisado em vasilhames plásticos junto a pratos e talheres. O
cardápio se resumiu em bisteca de porco frita, acompanhado de quinoa e salada
de pepino com tomate. Enquanto nossos amigos japoneses optaram apenas pela
salada, dei uma atenção maior às apresentáveis bistecas embaixo de um sol de
aproximadamente 40 graus. Naquele momento, não imaginava que isso me traria
péssimas conseqüências horas mais tarde.
Almoço realizado no próprio veículo |
Seguindo caminho por mais algumas
horas naquela imensidão branca, bem ao fundo já nos deparavamos por uma espécie
de ilha em meio a toda aquela claridade. A princípio a imagem se confundia com
o horizonte profundo e tremulo por conta do calor, que nos dava a impressão de
uma mera miragem.
Isla
Del Pescado
De fato não se tratava de miragem
alguma. Em uma formação rochosa como todas as outras que emergem do chão, a
ilha del pescado tem a base de rochas vulcânicas. Acima, em camadas sucessivas,
algas verdes fibrosas e sedimentos. Dessa mistura, brota a vegetação. Em pleno
salar, é um dos poucos pontos com alta concentração de seres vivos. Entre
estes, destacam-se cactos gigantes com até dez metros de altura, com mais de
600 anos de idade. A ilha recebeu esse nome pelos moradores indígenas da região
por ter a silhueta de um peixe. Com aproximadamente 01 hora de visitação,
adentramos para reconhecimento local. Em um caminho formado por uma pequena
trilha, pode-se percorrer por boa parcela da área da localidade em meios aos cactus
até seu ponto mais alto em um mirante com vista panorâmica de todo aquele mar
branco até a vista se perder. O espaço oferece sanitário e um pequeno museu com
artefatos e história da comunidade indígena local.
Com o final de tarde se aproximando e
a temperatura caindo bruscamente, o sal dava lugar a um deserto de coloração
mais árida e avermelhada, formando uma belo contraste com o azul do anoitecer. Nossa
próxima parada seria um alojamento no vilarejo de San Juan.
Noite
em San Juan
Em uma pequena vila situada na base de
uma montanha, chegamos a um simples alojamento de viajantes, todo feito de
blocos de sal. Paredes, cadeiras, mesas e as camas eram feitos desses blocos
com o chão todo revestido de pequenas pedras de sal. O espaço oferecia 2
pequenos banheiros coletivos e diversos quartos. Naquele momento, com um grupo
de aproximadamente 40 visitantes de diversas partes do mundo, fomos
recepcionados por um quente chá da tarde que antecedia o jantar. Já não me
sentia muito bem. Com a sensação de insolação, febre e dores no corpo, o café
foi mal apreciado e substituído por poucas horas de descanso até o jantar.
Ainda sem disposição e banho mal
sucedido após sermos informados que não teríamos água quente e o termômetro já
apontando 5 graus, com febre alta e muita indisposição, o jantar servido por
uma sopa de legumes e frango assado ofereceu um pequeno conforto para aquela
gélida noite.
Vilarejo de San Juan |
Dia
II – Deserto de Siloli
Às 7h da manhã todo o grupo já se
preparava para mais um dia de atividades. Com um rápido café da manhã, todos já
se direcionavam para os veículos para reconhecimento do deserto de Siloli. É
caracterizado pelas suas formações rochosas, resultantes dos fortes ventos que
a região tem e considerado como um dos mais áridos do mundo.
Com a péssima noite de sono e função
da alta febre e contrações abdominais por uma forte infecção intestinal que
ainda viria acontecer, aquela manhã não foi uma das melhores experiências vivenciadas.
Com belas paisagens ao entorno de grandes
montanhas e areia vermelha em meio a pequenas vegetações rasteiras, seguimos
até nosso as famosas lagunas Cañapas, Chiarcota e Honda. São lagoas de médio a
grande porte em meio a aridez da localidade e constituída por musgos, escassa
vegetação ao entorno e centenas de flamingos que por ali vivem.
Entre uma pequena parada na laguna
Chiarcota, ao lado de um hotel de sal desativado, minha grande surpresa, e
objeto de desejo mais buscado naquele momento: um banheiro ecológico. Nunca na
vida imaginaria encontrar um banheiro seco no meio do deserto. E em meio a um
calor de quase 40 graus, após utilizar e apreciar aquele momento, as próximas
horas seriam mais tranqüilas e menos dolorosas.
Banheiro seco em meio ao deserto |
Na ultima laguna a ser visitada,
tivemos a parada para mais um almoço preparado pelo nosso motorista. Às margens
da lagoa, com a bela paisagem formada pelas centenas de flamingos e grandes
montanhas com seus picos ainda coberto de neve, meu intestino dizia para não
comer aquilo, porém, por estar a quase 24h sem me alimentar, corajosamente
encarei um filé de frango a milanesa regado de óleo acompanhado de salada de
tomates e batatas cozidas.
Parada para almoço às margens de uma das lagoas |
Árvore
de Pedra e Laguna Colorada
Com mais algumas horas percorridas,
veículo quebrado e provisoriamente consertado, seguimos até uma região com
diversas formações rochosas esculpidas naturalmente. Ali, em uma área de
delimitado acesso, nos deparamos com a Árvore de Pedra – arbol de piedra - um
monólito natural de formação geomorfológica por erosão causada pelo vento muito
forte da região. O complexo está próximo à Reserva Nacional de Fauna Andina
Eduardo Avaroa, onde também se situa a Laguna Colorada.
![]() |
Veículo quebrado (comum realidade) |
Árvore de Pedra |
Chegamos às margens da laguna em um
mirante no alto de um morro onde a vista panorâmica da localidade apresentava
toda sua extensão. É um lago salgado e contém ilhas de sal bórax, cuja cor
branca contrasta com a cor avermelhada de suas águas, que é originada por
sedimentos vermelhos e pigmentação de algas.
Noite
em Siloli
Novamente em outro pequeno povoado
dentro da Reserva Nacional, nos hospedamos em um alojamento com condições
precárias de infraestrutura. Novamente sem água quente e a 2 dias sem banho sem
higiene alguma, depois de uma pequena barganha financeira, consegui com umas
das cholas – moradora indígena – um pequeno bule de água quente para um rápido
banho. A temperatura já beirava 0 graus e com uma febre de 39 graus, um banho
quente era tudo o que eu desejava.
No café de final de tarde, entre uma
prosa e outra, descobri que algumas pessoas não retornariam para Uyuni no
próximo dia, e sim para a fronteira da Bolívia com o Chile no território de
Ollague – cidade chilena. Como ganharia um dia de viagem em não ter que voltar
para Uyuni, para depois ir a citada fronteira, após algumas negociações,
consegui me juntar ao grupo.
Com mais um jantar perdido e um pouco
de medicação, já me encontrava embaixo dos cobertores daquele simples e
precário alojamento apenas aguardando o dia seguinte.
Dia
III – Destino à fronteira
Com a mudança de planos e algumas
atividades abortadas, junto o desgaste físico e desidratação por ter adoecido,
o terceiro dia serviu apenas como retorno em boa parcela do trajeto percorrido
no dia anterior e desvio no sentido oeste para Ollague, cidade localizada ao
extremo norte do Chile. Após aproximadamente 200km em meio ao deserto, chegamos
à fronteira boliviana. Saindo da Bolívia, em uma zona neutra, o motorista nos
deixou à 5 km
da fronteira do Chile. Ali esperamos por horas, em meio à incerteza, por algum
meio de transporte nos buscar para a travessia. Com um pouco de burocracia e
desorganização na passagem da fronteira, ao entrarmos no território chileno, seguimos
mais 06 horas de estradas entre terra e asfaltos precários, em um simples micro
ônibus até a cidade de Calama. O destino final seria a cidade de San Pedro do
Atacama. Em um ônibus – agora em melhores condições – seguimos da rodoviária
por mais 01 hora de estrada até a cidade localizada a 2.400 metros de
altitude, incrustada em meio ao deserto do Atacama.
Aguardando transporte para entrar no Chile |