quarta-feira, 27 de novembro de 2013

POTOSÍ - Minas de Prata e Centro Histórico


“A cidade não esqueceu seu passado colonial, responsável pelas toneladas de prata extraída de suas minas locais. Sua bem preservada arquitetura da época lhe rendeu o título de Patrimônio Histórico da Humanidade, pela Unesco, uma espécie de prêmio de consolação por séculos de exploração da miserável população”

 

Dia I

 

Vista panorâmica de Potosi
Saindo de Sucre, logo pela manhã já me encontrava dentro de um ônibus rumo à Potosí. A viagem de aproximadamente 04 horas me reservou atípicas e belas paisagens de altitude entre as áridas montanhas da região.

Nos arredores na cidade, a visão é impactante, pois a primeira sensação que se tem é estar em um lugar sem cor numa região aparentemente desértica. Esse fato deve-se a Potosí estar localizada a 4.090 metros de altitude, sendo uma das cidades mais altas do mundo.

Ao desembarcar na rodoviária central, a primeira impressão também não é das melhores. Com ares de cidade interiorana, pobre e ambiente notavelmente sem higiene, o local mistura mochileiros de todas as partes, com pedintes, vendedores ambulantes, trânsito caótico e as intermináveis e constantes buzinas dos carros que por ali passam.

 
 
 
De taxi, segui até o pequeno Hostel San Marcos, uma hospedaria incrustada no pequeno centro histórico da cidade, ponto mais alto da localidade. A medida que avançávamos, a sensação e impressão sobre a cidade melhorava. O local limpo e tranquilo abriga uma grande quantidade de monumentos históricos.
 
 
Hostel San Marcos
 
 
Naquele momento já sentia os efeitos da altitude. Com certa dificuldade respiratória por conta do ar rarefeito – a pressão do ar diminui e se tem a sensação de um ar pesado, onde devido a sua pouca densidade, a quantidade de oxigênio é baixa – o primeiro sintoma foi de leve dor de cabeça e estafa sentida em pequenos esforços físicos até então realizados.

Já me encontrava próximo ao horário do almoço e logo após realizar o check-in na hospedaria, me restava apenas alguns poucos minutos para um rápido lanche e saída para um dos principais atrativos de visitação que por anos representou uma riqueza e responsável pelo desenvolvimento de Potosí.

 

Minas de Prata

 

Entrada de uma das minas
As minas de prata de Potosí favoreceram o grande império espanhol por séculos. As jazidas foram descobertas casualmente, em 1545, por um indígena chamado Hualpa ou Gualca. Neste mesmo ano foi registrada uma primeira mina no Cerro Rico, uma montanha que chega a 4.500 metros de altitude, que o espanhol Juan de Villarroel denominou a “Descoberta”. Ao final do século XVIII contavam-se cerca de 5 mil bocas de mina, produzindo anualmente 250 a 300 mil marcos de prata. Quase que momentaneamente a população da então pacata e isolada vila começou a se multiplicar, transformando-a numa das maiores cidades das américas, chegando a ter, quase 200 mil habitantes.

Para o deslocamento até uma das minas, me juntei a um grupo formado em grande maioria por argentinos e num pequeno ônibus nos deslocamos até a base do cerro. Ali recebemos vestimentas adequadas - macacão impermeável, botas de borracha, capacete e lâmpadas de cabeça – junto às informações de conduta por um dos guias do local.

A grandeza do lugar, junto a centenas de trabalhadores em meios aos recortes do cerro, entramos em fila indiana em uma das minas ainda ativa. Sem iluminação alguma e dependendo apenas das lâmpadas individuais, a visão não é privilegiada e a atenção torna-se fundamental para evitar possíveis desagrados. Conforme adentramos aos corredores da mina, o espaço vai se tornado estreito, úmido e com um cheiro atípico. São várias bifurcações e escadarias onde apenas com o acompanhamento do guia tornaria mais tranqüilo o retorno. Após centenas de metros adentro da mina me deparei com um pitoresco e impactante monumento.
 


 
 
 
El Tio, é o senhor do submundo e dos minérios, ao qual devem ser feitos sacrifícios de modo a que os mineiros possam encontrar minerais, enriquecer e claro, sair das minas com vida. Para garantir que o "Tio" tem saciada a sua sede de sangue são feitos sacrifícios de lhamas à entrada das minas. Além disso são-lhe oferecidas folhas de coca, cigarros e álcool pelo menos 1 vez por semana.

 
El Tio
Após algumas horas mina adentro e várias histórias interessantíssimas, retornamos a sede de Potosí. Era final de tarde e ainda me restava aproveitar o tempo livre para conhecimento do centro histórico. A conseqüência de toda a mineração foi transformar Potosí na mais rica cidade do continente. Novamente na hospedaria, para um rápido banho e troca de roupas por conta de queda brusca de temperatura no final da tarde, encontrei um pequeno folheto turístico que apresentava aos principais monumentos a serem visitados.

 








Centro Histórico

A pé, e ainda sofrendo com os efeitos da altitude, em um raio de aproximadamente 02 quilômetros entre as estreitas e desiguais ruas da área central, comecei a visitar as principais e sugestivas construções.


Cerro Rico ao fundo
Edifício histórico



 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







Dentre as dezenas de atrativos culturais, me identifiquei com a Plaza 10 de Noviembro, marco zero da localidade e recheada de boas paisagens refletindo o dia a dia das pessoas que por ali circulam. A maioria dos visitantes cruza várias vezes neste hemiciclo de Plaza e torna-se um local agradável para sentar-se e assistir a cidade de Potosi operar em seu entorno.

 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







Outro grande edifício cultural é a Casa Nacional de La Moneda, construída no século XVIII, considerado um museu de grande importância para a Bolívia, o local reflete as diferentes etapas de cunhagem de moedas e outras manifestações culturais em pintura, arte e história. Existe a possibilidade de realizar um passeio guiado, mas por momento da ocasião, resolvi realizar rapidamente uma visita apenas para observação.

 
 
Casa de la Moneda
 



A religiosidade é outro marco impar da cidade. Com inúmeros templos datados de vários séculos, a cada esquina o visitante possui uma nova surpresa. Das principais igrejas visitadas, em grande maioria apenas para a observação de suas fachadas, me identifiquei com a Igreja de San Lorenzo. Localizada próximo ao Mercado Municipal, sua apresentação imponente em pedras lavradas dão um toque diferenciado em seu exterior.
 

 
 
Com a noite se aproximando, muito frio e cansaço ao extremo por conta do dia intenso junto a dificuldade de oxigenação, o jantar foi cancelado e substituído bolachas e suco de caixinha para em seguida realizar uma longa noite de sono.

 

Dia II

Logo pela manhã, após café matinal típico e simples, em conversa com alguns moradores locais e sem muito planejamento sobre o que fazer naquele dia, recebi a indicação de conhecer algumas lagoas com águas termais. Assim, após um pouco de especulação e contato com uma agência receptiva resolvi optar por conhecer a laguna Tarapaya.

 

Laguna Tarapaya

 
Ao fundo, laguna Tarapaya

Após reservar um taxi por intermédio da agência receptiva – vale considerar que esse ato fez com que o deslocamento ficasse algumas vezes mais caro em relação a uma negociação diretamente com o taxista – por aproximadamente 40 minutos de estrada sinuosa entre belíssimas montanhas áridas e de diversas colorações devidos a diferentes tipos de solo, cheguei a uma pequena propriedade onde se situa a laguna. Ao pagar uma pequena taxa aos moradores locais que administram a área, o lugar não surpreendeu. Com um pouco de desorganização, falta de higiene com animais e aves de criação soltos em meio aos visitantes, mais ao fundo, na base de diversas formações montanhosas em um cenário de paisagem espetacular a laguna me aguardava. A temperatura naquela manhã não passava de 10 graus e era representada por fortes correntes de ventos gélidos. Depois de algumas fotografias e reconhecimento do lugar, decidi saltar laguna adentro.  Com um raio de aproximadamente 30 metros, água esverdeada e temperatura média de 35 graus, o rápido mergulho fez jus à decisão de visitar a localidade. Um reflexo social encontrado no local é a incidência de moradores daquela comunidade que aproveitam a vazão da água quente para lavagem de roupas e demais objetos pessoais, causando um nítido contraste visual.
 
 
 

 

Mirante Panorâmico e Mercado Municipal

 

Retornando a cidade, entre uma história e outra com o taxista, fui informado sobre um restaurante panorâmico localizado num ponto estratégico que serviria como um perfeito mirante de 360º.  O visual é fantástico e o visitante pode obter uma visão privilegiada de toda extensão urbana de Potosi em sua coloração ocre e uniforme.

De volta ao centro histórico, após um almoço em um belo restaurante adaptado em uma construção com detalhes contemporâneos, me restava terminar de visitar alguns atrativos culturais. Como sempre, me interessei por conhecer o Mercado Central Municipal, grande espelho dos hábitos e costumes da comunidade que por ali vive.
 

 
Em um espaço relativamente pequeno, situado na parte baixa do centro histórico, o mercado é distribuído em inúmeros estandes com produtos convencionais, especiarias com destaque para a folha de coca e carnes comercializadas sem refrigeração e higiene alguma.
 
 

Dali, o pouco tempo que me sobrou foi reservado ao retorno à hospedaria para organização dos pertences pessoais e direcionamento novamente à rodoviária da cidade com destino à Uyuni, cidade com aproximadamente 20.000 habitantes e que possui o maior deserto de sal continuo do mundo.
 
 

Nenhum comentário: